Abstract
A epístola de São Paulo aos romanos abre com uma eloqüente condenação das práticas sexuais daquela época. Segundo o apóstolo, a idolatria generalizada que era praticada nas diversas partes do Império Romano, fez com que Deus entregasse os homens de então "à imundície para desonrarem seus corpos entre si" (cf. Ro 1:24). Paulo prossegue na descrição do que classifica como "paixões infames" (v. 26): "suas mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo em si mesmos a merecida punição de seu erro" (vs. 26-27). Não obstante a descrição minuciosa que Paulo faz do quadro da sexualidade humana no Império Romano durante o período neotestamentário, certos estudiosos têm rejeitado a avaliação moral que o apóstolo faz de tal sexualidade, afirmando que ela é imprópria por não levar em consideração que os romanos existiram numa época anterior à criação do conceito de sexualidade. Com efeito, a sexualidade é um tema novo para a discussão acadêmica entre os estudiosos da antigüidade clássica tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra. De acordo com Skinner, isso explica o fervor e o entusiasmo com que os classissistas entraram recentemente no debate.1 Nesse debate os estudiosos tem buscado uma resposta para a importante indagação: o conceito de sexualidade é uma invenção moderna ou não? Os classissistas formularam a pergunta de uma forma peculiar: pode-se falar de uma época em que não existia sexualidade? Há, de fato, uma época anterior-à-sexualidade?