O diabo faz expiação?Um estudo exegético e teológico 16:10
Resumen
Resumo: Levítico 16 descreve a festa judaica denominada Yom Kippurim
(Dia da Expiação), considerada pelos judeus como a maior festa religiosa
de Israel até os dias de hoje, o ritual máximo do tabernáculo/santuário.
No coração das cerimônias do Dia da Expiação estava o ritual da oferta
dos dois bodes. Ambos eram postos “perante o Senhor, à porta da tenda”(verso 7). Arão então lançava “sortes sobre os dois bodes: uma, para o Senhor, e a outra, para o bode emissário” (verso 8). A expressão “bode emissário”, encontrada nas principais versões portuguesas, é a tradução de uma expressão hebraica que literalmente significa “para Azazel”, cujas traduções e interpretações têm dividido estudiosos ao longo dos séculos. Enquanto uns acreditam que o segundo bode representa a morte de Cristo, outros, por sua vez, sugerem que Azazel é um símbolo de Satanás no AT. Esta última interpretação tem conquistado cada vez mais espaço entre os teólogos contemporâneos, inclusive os adventistas do sétimo dia. Porém, sérias críticas têm sido levantadas contra a associação entre Azazel e alguma espécie de demônio. A principal fundamenta-se no fato de que o verbo kipper (“expiar” do heb. rPeki) é usado em Levítico 16:10 descrevendo uma ação realizado pelo “bode para Azazel”. O questionamento resumese na seguinte pergunta: se Azazel representa Satanás, então estaria esta linha de pensamento atribuindo ao demônio um papel salvífico? Norteado por esta interrogação, este trabalho analisa os termos Azazel e kipper em três perspectivas distintas (etimológica, semântica e teológica) sugerindo que o termo Azazel refere-se a um ser pessoal, uma espécie de demônio, especificamente Satanás, e o verbo kipper, dentre seus diversos significados, no contexto de Levítico 16:10 deve ser interpretado como “limpar/purificar”. Escatologicamente, ambos os termos encontram-se no cenário do juízo final de Deus, no qual ocorre a punição de Satanás e a purificação do Universo da existência do pecado.
Palavras-chave: Azazel; Expiação; Levítico; Santuário; Bode emissário.
Abstract: Leviticus 16 describes the Jewish holiday called Yom Kippurim
(Day of Atonement), regarded by Jews as the greatest religious festival of
Israel until today, the major ritual of the Tabernacle. In the heart of the Day of Atonement ceremonies was the rite of the offering of two goats. Both were made “at the entrance to the Tent of Meeting” (verse 7). Aaron then cast lots “for the two goats, one lot for the Lord and the other for the scapegoat” (verse 8). The term “scapegoat” found in verses 8 and 10 is the translation of a Hebrew expression that literally means “to Azazel”, which translations and interpretations has divided scholars over the centuries. While some believe that the second goat represents Christ’s death, others, in turn, suggest that Azazel is a symbol of Satan in the OT. This latter interpretation has gained more space between contemporary theologians, including the Seventh-day Adventists. However, serious criticism has been leveled against the association between Azazel and some sort of demon. The main one is based on the fact that the verb kipper (“atone”) is used in Leviticus 16:10 to describe an action performed by the “goat for Azazel.” The inquiry is summarized in the following question: If Azazel represents Satan, then this line of thought would be giving to the devil a salvific role? Guided by this question, this article analyzes the terms Azazel and kipper in three different perspectives (etymological, semantic and theological), suggesting that Azazel refers to a personal being, a sort of demon, specifically Satan, and the verb kipper, among its various meanings, in the context of Leviticus 16:10 should be interpreted as “clean/purify.” Eschatologically, both terms are set in the scenario of the final judgment, in which takes place the punishment of Satan and purification occurs in the universe of the existence of sin.
Keywords: Azazel; Atonement; Leviticus, Sanctuary; Scapegoat.
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